Aposto que você já recebeu dezenas de mensagens iguais a essa, não é mesmo? Isso é um exemplo de mensagem enganosa, criada com o intuito de propagar e atingir o maior número de pessoas possível. Isso é um exemplo de corrente. Continue lendo para saber mais.
História
Correntes não são uma característica exclusiva do mundo pós-internet. Elas já existiam bem antes. Se espalhavam por meio de cartas que chegavam nas caixas de correios das pessoas.
Uma corrente muito comum dessa época é a do pão de cristo, no qual a massa do pão é dividida e repassada. De acordo com a tradição, ao receber a massa é necessário misturá-la com outros ingredientes e deixar descansar. A massa vai crescer de tamanho (graças à ação do fermento) e deverá então ser repartida em três pedaços: uma para assar, outro para guardar e continuar fazendo o pão em casa e o terceiro pedaço deve ser compartilhado com outras pessoas, continuando assim a corrente. Existem outros exemplos de correntes que não causam mal, porém, vamos tratar apenas das correntes “do mal”, que infelizmente são a maioria.
Com o advento da internet as correntes ganharam um ambiente sem paralelos para se multiplicar. É muito mais fácil encaminhar um email para várias pessoas do que copiar uma carta e sair colocando nas caixas de correio dos vizinhos.
Anatomia de uma corrente
Uma corrente começa com uma história. Essa história pode ser sobre alguém que precisa de ajuda (geralmente por motivo de saúde), mas pode ser também uma história de alguém que conseguiu, de uma hora para outra, encontrar o amor verdadeiro ou ter posse de um grande montante de dinheiro. Em geral são usadas em seu texto expressões como: “Cuidado!”, “Urgente”, “Leia, por favor!”, “Repasse!”
Depois vem a “chamada para ação” que na maioria das vezes envolve tão somente o repasse da mensagem. Em seguida temos o reforço à chamada. Nessa parte as correntes costumam usar várias estratégias para convencer o leitor a executar a ação: chantageá-lo dizendo que “se você não compartilhar X e Y te acontecerão”, apelar para sua solidariedade com termos como “não custa repassar”, “basta compartilhar para ajudar” ou reforçar a veracidade da mensagem dizendo coisas do tipo “Funciona mesmo, acabou de acontecer comigo!” ou incluindo o nome de alguma pessoa ou órgão para criar mais credibilidade: “Informação repassada pelo Ministério Público de Minas Gerais”, ou por uma importante figura religiosa, intelectual, política, etc. É possível que a corrente misture duas ou mais dessas estratégias: “João de São Paulo repassou a mensagem e conseguiu ganhar X mil reais em 5 dias, já Maria de Florianópolis quebrou a corrente e sofreu um acidente no dia seguinte”. Outra forma de convencer o leitor é dizer que, para cada compartilhamento feito, o Facebook (ou o Google, ou a Microsoft, ou qualquer outra empresa famosa) vai doar 10 centavos para a pessoa em questão, o que obviamente não é verdade.
Por que elas são criadas?
Os criadores de correntes têm diferentes motivações para fazê-lo. Alguns tem o prazer de ver a corrente espalhar, o que muitas vezes ocorre exponencialmente já que em geral o leitor é instruído a repassar a mensagem para muitas pessoas.
Algumas correntes tem o objetivo de difamar uma pessoa ou empresa. Um exemplo disso é uma mensagem falsa que circulou nos Estados Unidos alertando que ninguém deveria consumir produtos da Pepsi pois um dos funcionários havia contaminado a bebida com o vírus da AIDS.
Alguns criadores querem que os leitores acessem seu site para posteriormente lucrar de alguma forma com isso.
Há casos em que uma corrente é um misto de informações verdadeiras e falsas. Em geral a parte falsa é criada para fazer a corrente espalhar. Um exemplo disso é o caso de um homem que teve seu carro roubado e escreveu uma mensagem relatando o ocorrido, incluindo todos os detalhes de seu carro e acrescentando que no banco de trás havia um bebê que os ladrões não deixaram que o dono retirasse. O carro foi realmente roubado e posteriormente encontrado, mas nunca houve um bebê dentro.
Por que elas são ruins?
O compartilhamento indiscriminado de informações falsas pode te tornar mais passível de cair em
golpes. Repassar informações sem refletir ou pesquisar a respeito te deixa mais “desarmado” intelectualmente para lidar com uma eventual armadilha. Um exemplo disso são as terríveis correntes “pirâmide” que pedem que o receptor deposite dinheiro em contas listadas na carta. Após o depósito, a carta instrui o leitor a adicionar seus próprios dados bancários no fim da lista e a repassar cópias da carta para que outras pessoas depositem dinheiro para você também.
Outra efeito negativo é criar nas pessoas um falso sentimento de “fiz minha parte” inibindo assim reais atitudes de ajuda que ela poderia desempenhar em favor de terceiros em necessidade.
No caso das correntes que anexam fotos de pessoas com doenças raras há um grande prejuízo para as pessoas e famílias envolvidas ao verem suas vidas expostas por meio de informação falsa.
Algumas correntes de email pedem que sempre que haja um compartilhamento o leitor deve incluir um determinado endereço como cópia. O email costuma dizer que isso é para que haja uma contabilização do alcance das mensagens (para assim pagar os “X centavos por mensagem” por exemplo), porém o real objetivo é armazenar todos os emails envolvidos na corrente para posteriormente enviar SPAM com outras mensagens maliciosas para esses destinatários.
O que fazer?
Existem informações reais cujo compartilhamento vai gerar benefício para outras pessoas, mas como separar esse tipo de mensagem das correntes “do mal”? Usando bom senso, análise crítica e um pouco de pesquisa. Se você receber uma mensagem que se encaixa na anatomia que fizemos antes, o mais provável é que se trate mesmo de uma corrente. Se não tiver tempo para pesquisar, o melhor é não repassar. Caso ela venha em um formato diferente, analise criticamente a mensagem e, se for o caso, pesquise sua veracidade. Existem diversos sites na internet que catalogam correntes e dão a informação real a respeito delas (ex.: www.e-farsas.com e www.quatrocantos.com).
Caso você receba uma corrente de algum amigo envie para ele este artigo. Infelizmente o mais provável é que ele não venha a se “desculpar” com todos os destinatários da corrente que ele compartilhou, porém, ele vai pensar muito antes de enviar a próxima. E não se preocupe, o compartilhamento deste artigo irá gerar uma corrente do bem: pode enviar (para no mínimo 10 amigos) sem medo 🙂
Créditos
Imagem da capa por Hernán Piñera – https://www.flickr.com/photos/hernanpc/7115374283