Raciocinar

Navalha de Occam

O que é ?

O princípio da Navalha de Occam é o tipo da coisa que a maioria de nós já conhece e usa diariamente, sem saber porém que alguém deu um nome para isso. Trata-se basicamente de escolher a explicação mais simples para algum evento, quando nossas evidências atuais apontam para mais de uma possibilidade. Imagine que o último pedaço de uma barra de chocolate some da geladeira. Suponha que existam duas explicações:

Primeira:

Minúsculos gnomos, que moram nos vasos de flor que sua mãe cultiva na varanda, ficaram sem comida. Em uma assembléia um grupo de cinco gnomos foi escolhido para embarcar em uma missão para encontrar comida. Depois de dias de viagem (eles são mesmo muito pequenos, para cruzar só a varanda leva uma vida) eles encontram a geladeira. Aproveitando-se da distração de um parente seu, eles adentram a geladeira que alguém achou que tinha fechado. Após quase morrerem congelados eles encontram o chocolate. Ligam para a aldeia (sim, eles têm telefone celular) e recebem permissão para usar o teletransporte (estava com pouca energia na bateria, só poderia ser usado uma última vez) e assim voltam para a casa com o chocolate. Durante a noite toda a aldeia ajuda a partir o chocolate e estocam em suas casas. Quando é manhã nenhum humano suspeita de nada e o chocolate se foi.

Segunda:

Seu irmão assaltou a geladeira durante a madrugada e comeu o chocolate.

Qual explicação te parece mais simples ? Tudo bem, eu viajei, mas foi de propósito.

A navalha de Occam é um princípio lógico inventado por William of Ockham, filósofo e monge franciscano, na qual ele diz que:

Se temos várias hipóteses igualmente boas para explicar um evento devemos escolher aquela que possui o menor número de premissas

Ockham é, na realidade, o nome da cidade inglesa onde William nasceu.

A navalha de Occam pode ser dividida em dois “sub-princípios”:

  • O Princípio da Pluralidade – Pluralidade não deve ser assumida sem necessidade
  • O Princípio da Parcimônia – Não faz sentido fazer com mais o que pode ser feito com menos

Esses princípios eram aceitos por vários filósofos contemporâneos a William, porém, com o tempo eles acabaram sendo associados a William e sua “navalha”.

Outras enunciações do princípio

Princípio KISS, "Keep it Simple, Stupid"
Princípio KISS

Várias frases de cientistas e intelectuais famosos tem relação com a navalha de Occam. Einstein, por exemplo, dizia que “tudo deve ser feito da forma mais simples possível, mas não mais simples que isso”. Para Leonardo Da Vinci “simplicidade é o último grau de sofisticação”. O arquiteto alemão Ludwig Mies Van Der Rohe, cunhou a famosa frase: “Menos é mais”. Já Antoine de Saint-Exupéry, autor do pequeno príncipe, dizia que “a perfeição é alcançada não quando não há mais nada para adicionar, mas quando não há mais nada que se possa retirar”.

O princípio KISS, usado pela marinha americana a partir de 1960 e adotado em várias outras áreas desde então, diz que a maior parte dos sistemas funciona melhor quando são mantidos simples ao invés de complexos. KISS é um acrônimo para “Keep It Simple, Stupid”, que em tradução literal para o português significaria “mantenha as coisas simples, estúpido”. Alguns entendem a sigla como “Keep It Stupid Simple” o que traduziria para “mantenha as coisas estupidamente simples” ( o que soa melhor para aqueles que se ofendem facilmente).

Uso do princípio

Detetives usam o princípio para deduzir o suspeito mais provável em um assassinato (o mordomo, claro). Já os médicos o usam constantemente para determinar uma doença, dada uma lista de sintomas. A navalha é bastante usada na ciência. Há inclusive um famoso caso no qual os físicos Einstein e Lorentz estavam ambos trabalhando em paralelo no contínuo espaço-tempo. Os dois físicos chegaram às mesmas conclusões usando suas equações, porém, a equação de Lorentz se valia do conceito do éter, cuja existência nunca foi provada, e por isso as equações de Einstein “venceram”.

Outro exemplo famoso do uso do princípio é quando discutimos se o homem pisou ou não na lua. homem_na_luaExistem várias teorias dizendo que o homem não pisou na lua, que tudo não passou de encenação, uma conspiração. Ao analisar essas teorias é possível identificar inúmeras suposições para provar que a viagem a lua não aconteceu, que foi filmada em estúdio ou coisa parecida. Esta matéria da revista SuperInteressante lista os principais argumentos dos defensores da farsa e como a NASA e a ciência as rebatem. Essas teorias de que o homem não pisou na lua são carregadas de muitas suposições. Ao aplicar a navalha de Occam para avaliar se pousamos na lua ou não, somos levados a escolher a explicação mais simples, menos cheia de detalhes e mais factível: sim, Neil Armstrong pisou na lua!

Como eu uso ?

Um pouco de ceticismo não faz mal a ninguém. Usar a navalha de Occam é ser um pouco mais cético, é avaliar com clareza as mais plausíveis explicações para uma situação e depois escolher aquela que for a mais simples. Usar essa técnica não é garantia de achar a explicação correta, mesmo porque nem tudo tudo que é simples é necessariamente verdadeiro, mas pode nos ajudar a retirar do caminho várias explicações incorretas (pelo menos até que se prove o contrário).

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