Pensar

Um último pôr do sol glorioso

Segundo a mitologia grega o rei Sísifo, após enfurecer Zeus, foi mandado à Tânato, o deus da morte. Tânato deveria acorrentar Sísifo no Tártaro, o reino inferior, porém Sísifo, maliciosamente, pede que Tânato lhe mostre como as correntes funcionam. Sísifo então aproveita a oportunidade e aprisiona Tânato nas correntes. Enquanto Tânatos estava preso, ninguém morreu na Terra. Sísifo havia enganado a morte.

Sísifo

A humanidade trava uma eterna batalha contra a morte. Remédios, alimentação, tecnologia; empregamos tudo o que temos disponível para trapacear a morte. Avançamos muito (a expectativa de vida, ao nascer, dos brasileiros em 1940 era de 45,5 anos em 2015 passou a 75,5),  mas essa é uma guerra que não será vencida: viver para sempre é fisicamente impossível.

A morte

Do ponto de vista celular a morte começa antes mesmo de nascermos, antes de sairmos do útero algumas células já morreram. Porém, nesse momento e em toda a fase de crescimento, novas células estão sendo geradas em uma taxa bem maior que as que morrem. Matematicamente pode-se concluir que começamos realmente a morrer quando os processos que criam novas células começam a perder espaço para aqueles que as matam. Há pesquisas que indicam que isso começa a acontecer aos 27 anos já outras apontam datas distintas para cada parte do corpo.

Personagens do filme “Antes de Partir” buscando “pores do sol gloriosos”

A medida que envelhecemos nossos gastos com saúde aumentam. Estudos mostram que, em média, nos últimos 12 meses de vida desembolsamos de 40 a 80% do montante total dos gastos em atendimento médico de uma vida inteira. Dependendo do mal que nos acomete podemos chegar a situações extremas.

Há casos em que a vida já nos causa tanto sofrimento físico que dar cabo dela passa a ser uma opção. A eutanásia, junção do radical grego eu (bom) e do nome do deus da morte, Tânato, significa, de maneira ampla, a provocação intencional da morte àquele que sofre de enfermidade extremamente degradante e incurável, visando privá-lo dos suplícios decorrentes da doença. A ortotanásia por outro lado é a morte de maneira natural: sem a interferência ativa de nenhum agente, sem um prolongamento artificial, sem abreviações desnecessárias e sem sofrimentos adicionais. Diferente de outros países, no Brasil tanto a eutanásia quanto a ortotanásia são considerados crimes.  Por último temos a distanásia, que é o prolongamento da agonia na tentativa de adiar a morte e de conseguir uma sobrevida sem qualquer qualidade.

Um pôr do sol glorioso

No artigo “Você está preparado para um pôr do sol glorioso?” do site Freakonomics o leitor Timothy Price, um analista de investimentos, propôs uma ideia controversa. Que tal se qualquer paciente terminal pudesse escolher abrir mão dos caros cuidados de fim de vida para receber uma parte do dinheiro que a seguradora de saúde gastaria com ele? A ideia é que o paciente receba cerca de 50% do valor que a seguradora estima gastar com o tratamento padrão menos os custos dos cuidados paliativos.

Segundo o artigo, com esse dinheiro, os pacientes terminais poderiam escolher embarcar em uma última grande aventura, em busca de um último pôr do sol glorioso, ou até gastar o dinheiro para deixar um legado final à sua família. Ainda de acordo com Timothy “muitas decisões são tomadas no sentido de priorizar quantidade de vida ao invés de qualidade de vida”.

Se por uma lado os tratamentos de fim de vida possam ser punitivos (como no caso da distanásia) por outro a ciência está constantemente em evolução e um fato novo pode surgir e mudar a situação (como no caso de David Aponte que, em 2013, se curou em 8 dias de uma leucemia “incurável”).

A ideia de Timothy tem também sérias implicações filosóficas, morais e religiosas que precisam ser levadas em conta. O que ele propõe é que a decisão seja do próprio paciente terminal. Se o paciente estiver em condições legais de tomar tal decisão ela teria que ser respeitada similar ao que já ocorre hoje com a “ordem de não reanimar“.

Se você recebesse um diagnóstico terminal estaria disposto a seguir essa ideia e desistir dos cuidados médicos para buscar uma última experiência memorável?

Qual é a sua opinião?

O que você acha sobre a ideia de buscar um último "pôr do sol glorioso"?

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Fim

Faça o seu melhor

Nosso tempo de vida é irrisório se comparado à idade da terra, de nossa galáxia e de todo o universo. O que fizermos em vida vai afetar a vida de outras pessoas que nos cercam, talvez influenciemos gerações, mas todas essas outras pessoas um dia também perecerão. Ainda assim, nossa vida não tem preço. Nosso tempo tem um valor imensurável.

Cada um dá o sentido para sua própria vida decidindo como melhor gastar o pouco tempo que tem. Não importa sua crença, faça valer sua estadia.

 

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