A crescente popularização do acesso à Internet contribuiu para a explosão populacional de uma entidade cujo habitat natural passou a ser a própria Internet: as opiniões. De blogs a redes sociais, passando pela área de comentários de sites de notícias, as opiniões estão por todos os lados. Elas são as mais variadas, se aplicam tanto a assuntos sérios de interesse social quanto a tópicos fúteis ou de nicho, e são, em geral, defendidas com paixão.
É importante distinguir uma opinião de um fato. Fato é uma declaração verdadeira, um fato pode ser provado, já uma opinião não tem essa mesma vantagem. Uma opinião é algo pessoal, trata-se de uma conclusão que chegamos sobre certo assunto baseado em nossas emoções, experiências e conhecimento. Uma opinião não é “verdadeira” nem “falsa”, o que não a exime de ser moralmente questionável, potencialmente ofensiva ou até criminosa.
Opiniões são valiosas, são baseadas nelas que tomamos várias decisões em nosso cotidiano. Qual produto comprar, qual hotel se hospedar, qual curso fazer, em qual candidato votar, etc. De acordo com Jonah Berger em seu livro Contágio: Por que as coisas pegam: “uma resenha de 5 estrelas na Amazon leva à venda de aproximadamente vinte livros a mais que uma resenha de 1 estrela”. Ainda de acordo com ele: “embora a publicidade tradicional ainda seja útil, o boca a boca cotidiano dos Joãos e Marias é no mínimo 10 vezes mais eficiente”. Opiniões, por serem tão importantes, acabam por tornar valiosas todas as técnicas dedicadas a influência-las.
Mudar opiniões
Se você tentar mudar a opinião de alguém você provavelmente vai falhar. Em geral não gostamos de assumir que estávamos errados. É inclusive possível que ao tentar mudar a opinião alheia você atinja o efeito contrário: fortalecer ainda mais a opinião da pessoa que pretendia influenciar (trata-se do “backfire effect”).
Para mudar a opinião de alguém é essencial tentar enxergar o mundo sob o ponto de vista do outro: é preciso ter empatia. Ao entender porque a outra pessoa pensa como pensa, você vai conseguir descobrir nuances que ela pode ter deixado para trás e poderá usar essas informações para mudar o ponto de vista dela. Como já dissemos, ninguém gosta de estar equivocado e todos preferimos achar nossos erros nós mesmos, e não que eles sejam apontados por outras pessoas.
Argumentos do tipo “Você está correto segundo o seu ponto de vista, porém, será que não deixou de avaliar ‘isso’ e ‘aquilo’?” costumam funcionar muito bem, uma vez que assim você está concedendo um crédito inicial antes de tentar alterar o posicionamento alheio, facilitando assim todo o processo.
Existem diversos livros dedicados a discorrer sobre variadas ferramentas e técnicas para mudar a opinião de outras pessoas (como o livro As armas da persuasão, de Robert B. Cialdini), mostramos aqui algumas somente para ilustrar o processo de fazer o outro alterar seu modo de pensar. Porém, e quando somos nós o alvo da tentativa de mudança de opinião? Quão suscetíveis somos a trocar nosso ponto de vista?
Existe um viés cognitivo chamado de “viés da confirmação”: quando temos uma opinião acabamos
buscando mais informações que a confirmem do que informações que a contradigam. Para mudar nossa própria opinião precisamos fugir desse viés. Precisamos escutar outros argumentos e entrar em contato com visões contrárias às que mantemos atualmente. Infelizmente, a Internet não nos ajuda muito nisso por conta do que vem sendo chamado de “filter bubble”: estamos cada vez mais sendo expostos a fontes de informação que reforçam nossas ideias ao invés de fontes que as contrariam. Isso acontece pois os algoritmos por trás das redes sociais (e dos mecanismos de busca) estão sempre querendo nos “agradar”: nos mostrando assuntos que já demonstramos interesse antes, diminuindo então a chance de sermos confrontados com ideias diferentes.
Já a “ilusão da maioria”, comum nas redes sociais, também auxilia na manutenção das nossas opiniões atuais. Ela cria a impressão que nossas ideias são compartilhadas por todos, quando na realidade essas ideias só são populares entre as pessoas que temos em nossa rede social.
Mudar opinões alheias ou mudar a nossa própria, sob pressão de outros, é realmente difícil. Por outro lado, colocar a nossa opinião “em cheque” nos faz evoluir intelectualmente e aumentar nossa capacidade de persuasão também tem valor inquestionável. Felizmente, a mesma Internet que passivamente solidifica nossas crenças também nos oferece um ambiente efetivo para modificar nossas opiniões. Conheça abaixo o “Change My View”.
Mude minha opinião
O Reddit (brincadeira com a frase “read it”, “leia-o”) é um dos maiores fóruns de discussão da Internet. Entre seus milhares de sub-fóruns está o /r/changemyview. Esse sub-fórum é dedicado à mudança de opiniões. Funciona da seguinte forma: aqueles que tem alguma opinião, mas que admitem que podem estar errados, a expõem no fórum. É necessário que ela seja expressa em pelo menos 500 caracteres e que a opinião seja daquele que a está postando (e não de um amigo, parente, etc.). Outra regra de boa conduta do fórum é que quem esteja postando esteja aberto a mudar de opinião e, devido ao grande número de pessoas acessando o fórum, o “opinante” precisa estar disponível para discutir com os outros usuários por pelo menos 3 horas após o post.
Após publicadas a opinião e sua explicação, os ávidos frequentadores do fórum vão começar a responder com outros pontos de vista com o intuito de alterar sua forma de pensar. Caso algum dos comentários mude (completa ou parcialmente) sua opinião, você precisa inserir um comentário confirmando a mudança, o que é feito ao adicionar o símbolo ∆ (delta) no texto. O ∆ é o símbolo usado pela ciência para representar mudança. Os usuários do Reddit que conseguirem mudar a opinião de outros usuários acumulam um prestigioso contador de deltas à direita do seu nome de usuário.
O sub-fórum /r/changemyview é onde se pode encontrar algumas das mais ricas e aprofundadas discussões em todo o Reddit. Ao navegar pelos tópicos é fácil encontrar vários temas interessantes.
Em uma das discussões, por exemplo, um usuário se mostrou contrário que escolas proíbam as crianças de trazerem nozes/amendoins como lanche. A proibição tem como propósito proteger as crianças alérgicas à exposição acidental ao alimento, o que pode, em casos extremos, até causar a morte. Segundo o usuário, a responsabilidade de se proteger dos alérgenos é dos alérgicos e não do resto do mundo. A resposta que mudou a opinião do opinante veio de um usuário que sofre de um nível fatal de alergia. Ele explicou em detalhes todos os cuidados que ele precisa ter diariamente para se proteger e por fim concluiu que, para um adulto, por mais trabalhoso que seja, isso não é um problema, mas é muita responsabilidade para uma criança de 6 anos. O post original (em inglês, que é a língua oficial do changemyview) está aqui, porém, nós o traduzimos e incluímos na caixa abaixo caso você queira conferir.
Nesse outro post aqui um usuário argumenta não haver ponto de vista algum que justifique a proibição da maconha, nesse outro o opinante diz que ler livros é uma perda de tempo e neste outro (que de tão interessante nós o traduzimos e o colocamos em um post exclusivo) um usuário se diz não estar 100% convencido que é impossível viver para sempre!
Chegando ao fim
Uma pesquisa realizada por cientistas da universidade americana de Cornell estudou a dinâmica das iterações do fórum. A seguir um resumo do que eles descobriram:
- Quanto mais pessoas tentarem mudar nossa opinião, mais provável é que a mudemos
- Quanto mais “idas e vindas” menor a probabilidade de que o usuário mude de opinião
- Uso de linguajar diferente ao usado pelo “opinante” aumenta a chance dele ser persuadido
- Comentários maiores são mais efetivos
- Comentários acompanhados de links são mais efetivos que aqueles que não os contêm
- O uso de tópicos (ou “bullet points”, como esses que estamos usando agora) para enumerar seus argumentos se mostrou bastante efetivo no processo de mudar a opinião alheia
- Suas chances de convencer alguém caem muito caso você deixe o interlocutor irritado
- Pessoas que usam pronome pessoal singular para expor suas opiniões estão mais propensas a mudar de opinião que aquelas que usam o pronome pessoal no plural
Opiniões podem e devem ser revistas. O tempo passa, novos fatos aparecem e novos argumentos nos são apresentados. Leve tudo em consideração, reflita e se for o caso troque sua velha opinião formada por uma novinha em folha.